terça-feira, 2 de março de 2010

Trovas

Vestido de madeira e sangue batido.
Alguém me parou e me ofereceu um cigarro.
Eu perguntei de onde ele vinha...
E disse que nasceu dos escombros que chovia gente.

Banhada de suor e soro cansado.
Uma senhora espera e ferro na parada sem esperança.
Eu perguntei o que ela fazia.
Ela me disse que cortaram suas pernas
E roubaram sua viagem.
E que esperava ali porque não tinha escolha.

Um cachorro engravatado
Caminhava com o ronco da barriga que nunca dormia.
Ele vinha de longe com suas navalhas separadas.
E bebia algo preto que lhes dava a vida.
Eu perguntei por que dos olhos vermelhos.
E ele respondeu que tinha o direito de levantar e derrubar.
Tinha direito de escolher e se comandar.
Lhes davam força pra tudo que era quase tudo...
Mas não tinha força pra saber o que faziam com seu trabalho,
O que faziam com seu sustento.
Era como comprar a casa que você mesmo construiu.

Encontrei a um jovem sábio de cabelos brancos.
E quando me viu estender a mão pra ele, teve medo.
E eu perguntei a ele por que teve medo se estendo a mão.
E ele me disse
Que muitas vezes lhe estenderam a mão...
E estender a mão não é olhar o céu com sol.
É olhar no escuro o que virá ao teu encontro.

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